MODALISBOA N.50 EM DIRETO | DIA 1 - SANGUE NOVO



O desfile Sangue Novo apresenta as coleções dos designers: Federico Cina, Rita Sá, Inês Nunes do Valle, Filipe Augusto, Opiar, Federico Protto, N’a Pas de Quoi, e Isidro Paiva. Oito trabalhos e interpretações sobre a memória, a identidade, a atualidade, a cultura, a subversão, a verdade e aquela que será, talvez, a principal matéria-prima da Moda – a emoção.

Emotivo é sempre o final, pois é quando são anunciados os grandes vencedores: Filipe Augusto vence o prémio ModaLisboa, Rita Sá o Prémio Fashionclash e Inês Nunes do Vale o Prémio FittingRoom.

Querer sempre criar. Mas criar algo que viva para sempre.


FREDERICO CINA

A busca contínua por um sentimento de liberdade criativa, esse suspiro de alívio que dou quando chego a casa e me refugio dos ataques de pessoas que não me conhecem e das opiniões de estranhos que não acreditam em mim.

Posso respirar novamente de pulmões cheios, depois de deixar um trabalho que me isolou num pequeno espaço, que me oprimiu cada dia mais, controlando a minha criatividade e imaginação.

Imaginei os sobretudos, como proteção do mundo exterior. Como se estivesse envolvido em cobertores num momento de desconforto.

Segue os teus sonhos, ditando regras, formas e cores. Protege-te com os teus sonhos e a tua criatividade.

Crescer, assumir a responsabilidade, como uma criança que quer fazer os pais orgulhosos com um desenho ou uma escultura de barro. Uma criança que veste a enorme roupa do seu pai para ser levada a sério.

Imaginei líderes que acreditam na sua habilidade e segurança para enfrentar o mundo que nos magoa quando menos esperamos.

As emoções são projetadas através dos tons infantis da coleção, em contraste com tecidos de alfaiataria clássica.


RITA SÁ

“Quem tem telhados de vidro não atira pedras aos dos vizinhos” é o mote da coleção “Telhados de Vidro”, que aborda o jogo das aparências e a necessidade de ostentação, bem como a consequente hipocrisia de quem tudo faz para aparentar ser alguém que não é e ter algo que não tem. Atacando o próximo por problemas que na verdade também têm, os indivíduos que compõem a coleção revelam acreditar que é melhor ser um falso alguém do que um verdadeiro ninguém.

A coleção funciona como uma gradação e acentuação do conceito desde o primeiro até ao último coordenado, apresentando um primeiro indivíduo que se mostra alheio a qualquer preocupação. É um indivíduo resolvido que não se esforça por esconder as suas fragilidades. O segundo indivíduo, por sua vez, mostra-se incomodado com o primeiro e reúne esforços para aparentar ser superior, mesmo que isso signifique tentar ser alguém que não é. Continuamente, cada indivíduo assume uma postura de superioridade em relação ao anterior, esforçando-se por esconder as suas fragilidades, recorrendo a jogos de aparência, manipulação e manhas, de modo a deixar expostas apenas as coisas positivas. Coisas essas que acabam por se revelar falsas e descartáveis em relação ao indivíduo que o antecede.

No entanto, à medida que a coleção vai progredindo começa a notar-se uma dificuldade por parte dos indivíduos em controlar todo o aparato que foram criando. Então, as silhuetas que até agora cresciam em sentido ascendente, caem repentinamente. Os novos volumes são agora sustentados por pequenos detalhes que ainda conseguem resistir, e as muitas fragilidades que - bem ou mal - eram até agora escondidas, ficam completamente expostas. O azul da coleção remete-nos para as sacas plásticas e contribui para a ideia de descartabilidade.


INÊS NUNES DO VALLE

I'M IN THE WRONG JOKE

Vivemos numa sociedade hipertexto.
Encontramos lugares comuns e identificamos as ações mais ilusivas.
A justaposição é a ação do agora.
Consciente ou inconscientemente.
Moral ou imoralmente.
Com mais esforço ou com mais conforto.
A culture clash entre mainstream e subcultura não é novidade.
A apropriação cultural teve um ano em grande.
Qual o estado de arte atual?
Que postura adotar perante este assunto, em diálogo formal?
Homenagear os clássicos que estabeleceram diretrizes para o futuro, invocando o passado?
Personificar a contracultura snob "RADICAL SUPER BORING SHIT" por forma a encontrar o nosso nicho?
A única opção é a 3ª.
A justaposição via corte.
A exaltação do banal num quadro clássico pintado a caneta digital.
A absurdidade da obra Untitled Joke (Prince R.,1987) é a referência utilizada para este exercício.

I'm in the wrong joke.


FILIPE AUGUSTO

Colheitas de memórias passadas, e presentes também, que falam de personagens reais e do seu duro e alegre caminho pelo Douro percorrido. De espírito livre, vestem-se de trajes aleatórios, criando de forma involuntária uma identidade visual própria, única e de certa forma irreal que os torna seres individuais de uma sociedade apartada e longínquos de um mundo formatado. Estes que colhem o que lhes sai espremido das mãos calejadas, mostram-nos nesta coleção histórias e segredos de um Douro passado. Douro que, na sua incapacidade de mudar quem é, aceita as estações que organicamente lhe definem as cores, tal como as suas gentes são todas diferentes.


OPIAR

FAKE IT UNTIL YOU MAKE IT

É provavelmente um dos maiores dilemas desta sociedade. Como o social media "parece" ou "faz parecer". Parece que nos ajuda a construir uma "marca" de identidade pessoal em que existe um objetivo sem fim, de atenção, seguidores e fama, uma plataforma que valida o que está em falta. A coleção aborda este tema como sátira aos melhores exemplos deste tabu, através da mistura entre uma linguagem romântica e delicada aliada a uma abordagem mais desportiva e robusta do sportswear, contrastando a vida que queremos mostrar com a vida que na verdade vivemos.


FEDERICO PROTTO

A principal inspiração da minha coleção é uma viagem à minha terra natal, Montevideo, no Uruguai, em janeiro de 2016. Este regresso fez-me questionar a ideia de origem e destino.

Olhar para a moda tradicional, histórica e etnológica do meu local de nascimento sugeriu-me trabalhar com a pele de vaca como material principal e com o Gaúcho - um arquétipo de uma personalidade sul-americana - de uma forma figurativa e também abstrata.

Temas e elementos espirituais são repetidos e omnipresentes em todo o meu trabalho. O objetivo é encontrar imagens, técnicas e situações para dar aos utilizadores a possibilidade de evocar esses valiosos estados espirituais em qualquer situação.

Eu vejo as minhas criações como artefatos energéticos, e as pessoas que as vestem como ‘gender fluid’ e xamãs utópicos dos tempos digitais.


N'A PAS DE QUOI

Ophelia é uma coleção cápsula de womenswear inspirada numa das personagens femininas mais icónicas da História, uma das heroínas mais imortalizada em todas as áreas da criação.

Há algo de ad aeternum em Ophelia, não pondo de parte ideais feministas tão atuais e o cerne de quase tudo - o amor.

Seguindo a filosofia pré-rafaelita, a cápsula recupera esta personagem misteriosa - ruiva e envolta de flores numa certa aura mágica indecifrável - querendo enaltecê-la no seu poder. Tudo isto culmina numa imagem profunda e forte, cuja paleta cromática parte da famosa pintura, e onde silhuetas lânguidas se formam, onde camadas de tecidos e malhas se cruzam em ritmos, onde se dá, pelo movimento, sugestões das longas folhas do salgueiro, do cair na água, com as variadas aberturas, trespasses, proporções e acabamentos não-acabamentos… prolongando o mistério.

Ophelia revitaliza-se assim, mais uma vez, não querendo afastá-la de Shakespeare, não querendo desfigurá-la de John Everett Millais ou Dante Gabriel Rossetti, aí já transfigurada em Elizabeth Siddal.

Sempre e várias vezes uma musa, esta é a Ophelia contemporânea.


ISIDRO PAIVA

Do cachimbo produtor de nuvens – unidade entre os planos material e ideal. Universo racional justaposto ao natural.

Das nuvens – simulacro das sensações e fenómenos luminosos. O racional, o imaginário, as nuvens. Cortina que vela o mundo.

A cortina – mediação entre o espaço interior e o público. O íntimo velado ativa o imaginário.

Do corpo – percepção social em constante mutabilidade. Sobre ele recaem primeiras atrações ou repúdios.

A moldura – o princípio da escolha. Seleção da parte perante o todo.

A Grécia – uma sugestão.

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