NOS TRILHOS DE VERA CRUZ | EM DIRETO - DIA 14


O ECO RESORT NA AMAZÓNIA

Depois de uma viagem nocturna que nos conduziu ao nosso hotel em plena selva da Amazónia, hoje quando acordámos conseguimos perceber o cenário idílico onde estávamos.

Mergulhados no meio da selva, o nosso resort é constituído por um conjunto de pequenas casas de madeira cuja única paisagem que se vislumbra das janelas é a pura e frondosa selva.

É neste cenário absolutamente digno de um jardim de éden selvagem e perfeito que acordamos e que tomamos o pequeno almoço bem cedo, antes da nossa primeira actividade do dia.

Estamos sem dúvida na maior Selva do Mundo!


A FLORESTA DOS MACACOS

Depois de um curto passeio de barco chegamos a um pontão de madeira, onde desembarcamos e chegamos ao nosso primeiro destino do dia: a Floresta dos Macacos.

Este é um centro de recuperação de animais que são apreendidos em redes tráfico e depois de se certificar da sua saúde e boa forma, reintroduz estes animais na floresta e na vida selvagem.

O objectivo deste centro é muito meritório, mas mais do que isso, concentra uma quantidade anormal de macacos de várias espécies. Assim, depois dos tratadores trazerem vários recipientes de fruta, começam a fazer sons para chamar os diferentes macacos. A reacção é imediata, e à nossa volta, os ramos das árvores por cima de nós começam a abanar fortemente e à medida que o movimento se aproxima cada vez mais, começamos a perceber que dezenas de primatas estão a dirigir-se para a nossa frente, atraídos pelas mangas, papaias, bananas e outros frutos frescos e doces que os tratadores trouxeram com eles.

Ficamos maravilhados com o que se passa diante dos nossos olhos: dezenas de macacos, das mais variadas espécies, em família, ou isolados, respeitam uma hierarquia muito específica na ordem de comer: os maiores e mais fortes comem primeiro, os restantes organizam-se por ordem de tamanho de cada espécie.

Mas há comia para todos e nesta selva controlada, todos comem perante os nossos olhos. Claro que não podemos tocar, nem fazer muito barulho ou movimentos súbitos, mas o espectáculo que se passa mesmo à nossa frente a pouco menos de um metro, é um momento muito divertido e cativante.

É com esta floresta dos macacos que as boas vindas da vida selvagem nos é dada!


O RITMO DE VIDA NA FLORESTA

De volta para o Eco Resort, temos tempo para descansar antes do almoço.

Na Selva, por causa do calor forte e da impressionante humidade, tudo precisa de muito tempo para acontecer, pois é privilegiado o descanso dos visitantes, pouco habituados a estas condições climáticas extremas.

Assim depois do meio dia e até às três e meia da tarde, o suposto é almoçar, e descansar, pois o calor extremo que se faz sentir impossibilita as várias actividades planeadas.

Assim aproveitamos o tempo para repor os sonos em dia, pois neste primeiro dia, dormimos poucas horas, e este é um cenário que merece que estejamos na melhor forma para o podermos aproveitar no seu máximo.



A CAMINHADA À CHUVA

Depois do almoço, e porque optámos por acrescentar passeios ao nosso programa de amanhã, antecipámos a caminhada pela selva para as 14.30h

Teoricamente estaria muito calor para tal, mas como a chuva tropical começou a cair, a pressão atmosférica e a temperatura baixaram, melhorando assim as condições climatéricas e assim tornando possível esta caminhada.

Foi uma hora embrenhados na selva, onde vimos aves, uma tartaruga gigante (tirada do seu lado pelo nosso simpático guia), cascatas naturais e muitas frutas e insectos. Mas foram as árvores, a sua dimensão e a sua exuberância que chamaram a nossa atenção.

De facto esta selva tem um conjunto de árvores e um sem número de espécies  de vegetação tão vasto e grande que não admira que ainda falte catalogar muitas das espécies aqui encontradas. Das catalogadas, segundo o nosso guia, já se contam mais de 2000 espécies, mas para uma selva que tem uma superfície ocupada superior a metade da Europa, é impossível prever quantas ainda falta descobrir.

Este é um passeio verdadeiramente didáctico e que nos dá muitas percepções do que é a Amazónia, as ameaças que sofre, e qual as principais lições que tiramos dela.

Segundo o nosso simpático Ozimar (o nosso guia), caboclo (com mãe índia e pai branco) e nascido e crescido na selva, a principal ameaça não é a exploração de madeiras ou a agricultura - "as árvores grandes dariam muito trabalho a deitar a baixo, pois estão muito longe umas das outras e longe de tudo para serem transportadas - e o solo é demasiado arenoso para a agricultura - de facto é uma areia muito branca e ácida - mas sim as alterações climáticas e a destruição do clima que permite à selva manter o seu equilíbrio natural.

Outra das curiosidades foi a explicação do porquê das águas do Rio Negro (onde se situa o nosso Eco Resort - terem essa cor "parecida à coca-cola". Este fenómeno deve-se ao facto de mais de 6 meses por ano, muitas árvores e folhas e arbustos sobreviverem debaixo de água (devido à subida das águas) e portanto a acidez da sua decomposição e a quantidade de sedimentos que isso gera, acaba por gerar a cor negra das águas.

Este passeio na Selva, onde só nós fomos, aprendemos verdadeiramente muito sobre este pulmão do mundo, e aprendemos essencialmente a respeitar este equilíbrio tão essencial que o torna possível de existir de forma tão bela e harmoniosa.





A MEDICINA, A BORRACHA E A MANDIOCA

Encharcados mas absolutamente satisfeitos, voltamos ao hotel e embarcamos imediatamente nos pequenos barcos do Eco Resort para a nossa próxima visita: a Casa do Caboclo.

Na realidade este passeio é uma muito interessante aula de algumas das técnicas que os povos da selva aplicam para conseguir alguns dos produtos mais icónicos da selva.

Começamos por uma aula de farmácia, mas apenas com recurso ao que a selva dá. Assim começamos por conhecer as propriedades medicinais da verdadeira banha da cobra (que é um dos mais potentes anti inflamatórios que existe), a potente raiz do Açaí (que é um fortalecedor de defesas naturais) ou a de umas formigas muito pequenas, que se esfregam na pele e são um poderoso repelente e ajuda os índios a caçar, pois mascara o odor dos humanos, permitindo assim aos índios aproximarem-se mais dos animais e caçá-los de forma mais eficiente).

Depois da farmácia, subimos até uma zona mais alta e aprendemos como é que a borracha é feita. Desde a sua extracção até ao seu tratamento manual, todo o processo é-nos mostrado, explicado e exemplificado. Aqui percebemos o porquê desta seiva de árvore ter sido considerada durante séculos o Ouro da Amazónia, que permitiu que Manaus tenha sido a cidade mais rica da América do Sul durante muitas décadas.

Por fim, descemos à cozinha e é-nos explicado como é que é feita a farinha de mandioca. O processo manual é feito perante os nossos olhos, com os métodos artesanais, e no final conseguimos provar a farinha ali feita e percebemos: a mandioca que provamos aqui é completamente diferente da que encontramos nas grandes cidades. Aqui ela é mais grossa, mais crocante e muito, mas muito, mais saborosa!




A PESCARIA DA PIRANHA E APANHAR UM JACARÉ COM A MÃO

Como estamos na Amazónia, no final da tarde, mesmo antes do pôr do sol, saímos para mais um programa que nos vai levar até um sossegado recanto na Selva: somos apenas nós, com o nosso simpático guia e um divertido canoeiro, e vamos pescar Piranha.

Este momento, além da emoção da pesca em si, ensina-nos que as piranhas são um peixe muito inteligente, pois consegue tirar o isco dos anzóis sem os morder. Assim a técnica é puxar a cana quando sentirmos a piranha a morder o isco. Obviamente que a maior parte das vezes elas comem o isco (carne de frango) e não damos por nada.

Mas a grande beleza do momento é proporcionado pelo pôr do Sol, em pleno rio Negro. O nosso sossego potencia os ruídos da Selva e as tonalidades de azul, rosa, laranja e vermelho que o céu assume em apenas uma hora, é absolutamente mágico e memorável.

Já com a noite instalada, retornamos ao Eco Resort e vamos buscar mais pessoas para irmos para uma focagem nocturna. Esta Focagem nocturna é um passeio pelas águas do Rio Negro, para conseguirmos experienciar a vida nocturna da Selva.

A primeira coisa que notamos é o absoluto breu que nos invade o olhar. Pouco destingimos da paisagem envolvente e não fora a potente lanterna que o guia leva, não veríamos sequer os milhares de animais que nos rodeiam. Claro que já em termos sonoros, a Amazónia acorda à noite. Os zumbidos, cantos, barulhos e demais ruídos que a fauna nocturna faz é uma autêntica sinfonia, com uma harmonia quase caco-fónica, mas uma beleza muito grande e exuberante.

Mas o momento alto está quando o nosso canoeiro, orientado pelo guia, salta para a água para ir apanhar um jacaré e traze-lo para dentro do barco. Seguem-se momentos de silêncio absoluto, de emoção completa e de uma escuridão invasora de todos os nossos sentidos. É um momento muito forte, que só é quebrado quando a lanterna que levou (e que estava a falhar constantemente com um mau contacto, acrescendo assim ainda mais à emoção do momento) se aproxima e nos revela um jacaré bebé na sua mão!

Aqui a apoteose de excitação apodera-se de nós e quase todos querem pegar no bicho, algo que, com cuidado e orientações precisas do simpático e cuidadoso Ozimar, conseguimos. É um momento de grande adrenalina, e que encerra o nosso primeiro dia na Selva Amazónica.

Resta-nos um jantar de peixe do rio Amazonas (o Piracucu) absolutamente delicioso tomado por baixo de uma cobertura de folhas de palmeira iluminado por candeeiros de palha e uns momentos de relaxe nas redes do Hotel antes de deitar.

Sim este primeiro dia foi muito intenso, mas o de amanhã continua no mesmo ritmo, por isso deitamo-nos cedo, porque o acordar na Amazónia é com os primeiros raios de sol!

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