GIRO AL NORTE | EM DIRETO - DIA 5




ACORDAR NUM PALAZZO VENEZIANO

Foi a nossa primeira noite dormida no nosso hotel em Veneza e foi um luxo tão grande quanto o é o nosso modesto hotel. Situado num Palazzo em plena zona de San Marco, este hotel San Moisé, apesar de ter apenas 3 estrelas, é um verdadeiro luxo. Mais do que o serviço (que é correcto e disponível), este hotel tem no seu pátio de entrada, nos seus quartos e nos corredores o seu principal atractivo.

Como seria de esperar, a quantidade de lustres de vidro de Murano impressiona, os tectos e paredes trabalhadas com estuques e madeiras, as pinturas e o mobiliário antigo fazem o resto do charme de toda a atmosfera deste hotel.

Foi uma noite muito descansada, e passada num hotel cheio de charme!



A ILHA DE MURANO

O nosso dia aqui em Veneza começa com uma ida até à muito icónica ilha de Murano. A ajudar a este passeio esteve (durante toda a nossa estadia em Veneza, diga-se) um céu azul, absolutamente mágico, o que deixou que o passeio de quase uma hora de vaporetto desde San Marco até Murano Museo fosse um verdadeiro prazer.

Nesta ilha, de atmosfera bem mais calma do que as ilhas centrais da cidade, respira-se um ambiente calmo, sem pressa, como se estivéssemos numa outra cidade, mais pequena e relaxada. As casas são mais baixas, as suas fachadas menos trabalhadas e tem cores mais diversas. Se não soubéssemos que esta ilha também faz parte da famosa cidade, acreditávamos que estávamos noutra cidade, bem mais pequena e sem turistas.



Claro que, com um ambiente bem mais calmo, o nosso ritmo de viagem também abrandou, pelo que passeámos pelas ruas, sentámo-nos relaxadamente num café e só depois nos dirigimos ao incontornável Museu do Vidro de Murano. Aqui chegados encontramos uma exposição que nos explica, as origens, o desenvolvimento, as várias crises e renascençimentos desta arte e a sua contemporaneidade. É uma exposição muito bem feita, bastante didáctica e que explica tudo de forma clara simples e inteligível para qualquer leigo na matéria, isto sem deixar de fora peças icónicas ou a explicação técnica das várias tecnologias utilizadas ao longo dos tempos.

Satisfeitos com esta visita, voltamos às ruas da ilha, e dedicamos-nos a explorar algumas lojas das redondezas, e percebemos o luxo que ainda hoje reina na indústria do vidro de Murano. Mas de facto há lojas para todos os gostos, pois há lojas com peças absolutamente banais, mas também há lojas com peças absolutamente deslumbrantes ... quer clássicas, quer modernas. Mas claro está, as boas peças são caríssimas, de acordo com a peça única e feita à mão que se está a comprar.



Depois de darmos alívio ao saldo dos nossos cartões de crédito, seguimos então para o nosso almoço aqui nesta ilha: na Acquastanca Osteria. Este pequeno restaurante é discreto, arredado do centro turístico da ilha (se é que existe) e serve uma comida absolutamente típica da região de Veneza. Massas e carnes excepcionais, com sabores únicos e primorosamente feitos ao momento. Obviamente que, sendo um lugar tão selecto e exclusivo (mas com um ambiente super descontraído e familiar), o preço não foi dos mais módicos da viagem ... mas valeu a pena, pois tudo estava na medida certa e na qualidade como nós gostamos: irrepreensível.



MUSEU PEGGY GUGGENHEIM

Depois de um excelente almoço em Murano, voltamos então ao centro da cidade e ao seu grandioso Canal Grande, para irmos até ao discreto, mas conhecido museu Guggenheim de Veneza: o Peggy Guggenheim Collection.

Situado num dos Palazzos deste canal, mesmo junto à Academia de Belas Artes, este museu oferece uma visão da colecção desta famosa colecção de arte muito própria: a colecção de obras aqui exposta foi escolhida com um critério pessoal e muito próprio, de acordo com o gosto da conhecida coleccionadora de arte americana.

Aliás, o próprio edifício do museu é a sua antiga casa nesta cidade que Peggy Guggenheim tanto gostava. Assim é num ambiente de antiga familiar (mas já transformada em estrutura expositiva) que se podem apreciar obras de períodos menos conhecidos de artistas tao diversos como Picasso, Kandinsky, Jackson Pollock ou Marc Chagal. É uma colecção pequena, bem exposta e que tem no gosto da sua fundadora, a linha condutora de toda a história que nos conta. Percebemos os seus gostos, os seus favoritos, e conseguimos ver peças de períodos estranhos ou iniciais das carreiras destes monstros das artes plásticas mundiais.


UM JANTAR QUE DEVIA TER SIDO MAS NÃO FOI

Se o final de tarde foi marcado por uma excelente exposição de arte moderna, a noite deveria ser marcada por um excelente e moderno jantar num bom restaurante em Veneza ... mas assim não foi.

Depois de passarmos pelo hotel par descansar e nos arranjarmos, saímos e rumamos até ao restaurante Café Centrale. Tendo uma decoração moderna e cheia de design o problema começa logo na atitude altiva e menos sorridente dos empregados. As expectativas ficaram bastante altas, tal era a pretensão que o local transmitia, mas infelizmente foi tudo ao contrário. Desde uma carta de vinhos com apenas um Proseco para escolher, até ao empregado esquecer-se de servir um de nós deste mesmo vinho italiano e quando chamado a atenção que se tinha esquecido de servir quem fez a prova, dizer que tinha sido de propósito para o vinho no copo não aquecer, explicando de forma séria e altiva que Proseco se bebe fresco (como se não o soubéssemos) ... único problema é que não havia quase vinho para aquecer, passando por trazer um prato ao mesmo tempo das entradas (aqui já tínhamos desistido de exigir algo de bom) e acabando por explicar que vários ingredientes que estavam no menú (incluindo nos de degustação) tinham sido substituídos por outros que nada tinham que ver (como os cogumelos serem substituídos por abóbora) mas que não tinham substituído as ementas, pois os pratos ficamos muito parecidos e bons também.

Mas podia-se dizer que o problema era do serviço, mas não, pois a cozinha correspondeu aos mesmos fracos standards, neste caso mais grave, pois tratava-se do nosso jantar (e ainda por cima não barato e super pretensioso). Sendo que quem nos conhece sabe que gostamos de boa comida, para nós é grave trazerem-nos pratos como um pato hiper passado com um molho tão forte (neste caso doce) que era impossível sentir outro sabor que não o açúcar, ou um coelho com um molho cheio de farinha (ou outro espessante qualquer, que o tornou numa pasta melosa e sem sabor), que tornava impossível sentir o sabor do molho ou a textura dos vegetais que acompanhavam... salvou-se um filete de linguado com algas japonesas e alcachofras em caldo de peixe, que esse sim estava bom. Já no final, ao vermos as sobremesas, decidimos ir diretos à conta e não pedirmos mais nada, dada a pobreza das propostas da carta apresentada. Foi pena que, depois de um jantar excelente como o da véspera, ou de um almoço tão especial como o de hoje, este jantar tenha tido uma qualidade tão baixa ... até porque estamos em Itália onde comer é uma religião!

Mas para acabar a nossa noite com nota positiva, decidimos passear pela bela e deserta cidade, e assim vermos (por fora) o mítico Teatro de La Fenice ou a incontornável Ponte de Rialto. A vantagem deste passeio nocturno, ainda por cima nesta época do ano, foi que estes monumentos foram só para nós, pois não havia um turista à vista. Sentimos-nos parte da cidade e apreciámos a sua beleza e mística como se fossemos locais. Depois do desastroso jantar que tivemos, este final de noite foi perfeito e mágico!

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