NOS TRILHOS DE VERA CRUZ | EM DIRETO - DIA 17


O HOSTEL VILLA 25

A escolha deste Hostel foi um risco que corremos na organização desta viagem, mas que se revelou muito acertado.

Não se espere do Villa 25 um "café da manhã" hiper completo, com um buffet infindável (afinal estamos num Hostel), mas como aqui a primeira refeição do dia é uma instituição, o pequeno-almoço deste Hostel é muito melhor do que o servido por muitos hotéis europeus.

Mas é ao passar pela piscina imaculadamente azul turquesa, pelo restaurante cool o pátio da entrada ou sentarmo-nos junto a uma das portas de madeira trabalhada e vidros da sala de pequenos almoços que percebemos o especial que este Hostel é.

Com a sua arquitectura irrepreensível, o seu ambiente sofisticado, descontraído e muito culto, este local é perfeito para um acordar carioca.



O CRISTO REDENTOR

O considerado uma das 7 Maravilhas do Mundo, foi o nosso primeiro destino do dia: o Corcovado e o Cristo Redentor.

Apesar de estar poucos minutos a pé do hotel, como tínhamos comprado bilhetes na Internet com hora marcada (e já estávamos a menos de meia hora), decidimos ir de carro não fossemos perder-nos.

Assim só quando saímos do Uber é que percebemos o estado menos bom em que está esta Maravilha do Mundo. Depois de termos visitado já quatro das maravilhas do mundo nas nossas viagens (Taj Mahal, Machu Pitchu, Coliseu de Roma e Petra), e todas elas estarem irrepreensívelmente tratadas e organizadas, a visita ao Cristo Redentor do Corcovado foi um pouco decepcionante.

A estação de embarque no elevador que nos leva lá acima está velha e negligenciada, o elevador em si é desconfortável e para tantas vezes no meio do percurso (sem razão que se perceba) que torna a subida ao Morro do Corcovado algo absolutamente penoso, pois estamos cheios de calor, porque não tem ar condicionado, estamos apertados, pois tudo é cheio até ao último lugar disponível, mesmo que tenham de separar grupos, e com uma velocidade mínima esta é uma viagem demora uma eternidade. Pior que tudo é chegar ao cimo do elevador e explicarem que tudo e todos (incluindo pessoas com mobilidade reduzida, como idosos e pessoas de muletas) têm de subir mais de 120 degraus de pedra altos para poderem chegar ao sopé do Cristo (e portanto vê-lo) porque os vários elevadores estão avariados e portanto não há qualquer alternativa possível.

Mas quando se chega lá a cima (e se recupera o fôlego, pois subir tantos e tão altos degraus de baixo de 37 ºC é absolutamente esgotante) a vista de toda a cidade, do mar e dos morros é incrível. E claro que que a estátua do Cristo Redentor, com os seus braços abertos concentra todas as atenções. A simplicidade das suas linhas, a sua escala descomunal, mas ao mesmo tempo humana e sua pedra já acinzentada são uma visão com impacto.

No entanto, não sabemos se é pelo mau estado em que esta maravilha está toda a estrutura de acesso (em contraste absoluto com o Pão de Açucar), se é pela falta de simpatia do pessoal (que nem parece carioca, pois tem o semblante fechado e uma muito pouca disponibilidade para ajudar quem quer que seja), ou por este não ter sido o primeiro grande morro que subimos aqui no Rio de Janeiro, a sensação que fica é a pouco.

Esta é talvez a Maravilha do Mundo, menos maravilhosa de todas as que visitámos até agora ... o que na "Cidade Maravilhosa" é uma pena!



AS ESCADAS DO SELARON

Foi ainda a discutir a decepção que tivemos com a visita do Cristo Redentor do Corcovado que chegámos ao popular Bairro da Lapa e às icónicas Escadas de Selaron.

Como pedimos ao nosso Uber para nos deixar no topo das escadas quando começámos a descer vimos os vários muros dos prédios que as ladeiam cobertas pelos icónicos mosaicos de azulejos, mas ninguém via a icónica imagem.

A razão para isto é que os cobertores dos degraus são de um humilde e simples cimento, mas quando nos voltamos para trás e vemos os espelhos dos vários degraus damo-nos conta do verdadeiro impacto destas simples escadas de bairro.

A força das cores garridas, o detalhe das texturas e dos desenhos, a simplicidade da combinação dos azulejos diferentes fazem destas escadas vistas de baixo um verdadeiro painel de azulejos espectacular.

Depois de uma visita ligeiramente desanimadora, a riqueza cultural popular das escadas, a sua vibração de ambiente dinâmico e entusiasmado e todos os momentos divertidos que tivemos a descobrir este imenso painel de azulejos de arte urbana simples e intuitiva fizeram deste o contraponto perfeito para elevar o nosso ânimo novamente.


OS ARCOS DA LAPA E A FEIRA DO LAVRADIO

Depois da entusiasmante descida das Escadas do Selaron, rumámos até aos também eles muito conhecidos Arcos da Lapa.

Este aqueduto é um dos locais mais populares no Rio de Janeiro, pela sua dimensão boémia e pela sua forma tão simples, mas icónica. Mas não foi aqui que nos demorámos, pois neste dia estava relativamente deserto ... porque era dia de Feira do Lavradio.

Todos os primeiros Sábados do mês (é este o caso) a vizinha Rua do Lavradio transforma-se num imenso e muito ecléctico mercado. De roupas a arte, de antiguidades a curiosidades, de comida a mobiliário, tudo se vende nesta longa rua.

Foi aqui que nos perdemos até ao almoço, a descobrir objectos vintage, a vermos o trabalho de desconhecidos artistas de rua e pequenos artesãos contemporâneos e a percebermos que a dimensão cultural do Rio de Janeiro contemporâneo vai mais além da imensa herança musical, e espalha-se por diversas áreas e exprime-se das mais variadas formas.


O ALMOÇO NO SCENARIUM ERRADO

Tínhamos programado almoçar no clássico Rio Scenarium (localizado exactamente num dos extremos da Rua do Lavradio), mas infelizmente, mesmo na porta ao lado, existe um outro Scenarium ... só que não é Rio, mas sim o Sacro.

Assim em vez de almoçarmos envoltos em sons de samba (que estranhámos não ouvir), almoçámos entre objectos de arte sacra. No entanto diga-se em justiça, que este outro Scenarium é uma casa com uma decoração linda.

Com quadros de santos, objectos de culto antigos e novos, anjos em talha dourada e uma multiplicidade de registos mais elaborados ou populares, a decoração o piso de entrada é verdadeiramente espectacular.

Mais ainda. Embora não seja o Clássico Rio Scenarium, aqui as nossas opções gastronómicas estavam muito boas. Desde o mix de pasteis de Camarão e queijo e de carne e salsicha, até às tiras de filet em vinha de alhos, estava tudo excelente.

Foi um engano que, nos privou de visitarmos um dos locais mais míticos do samba brasileiro, mas que nos deu a conhecer um local lindo e nos proporcionou um almoço delicioso, confortável e a um preço muito acessível!




AS AVENTURAS NO CENTRO

Depois do bom almoço que tivemos, decidimos ir explorar alguns dos edifícios notáveis que existem no centro do Rio de Janeiro. Mas cedo descobrimos que algo teríamos de fazer diferente, pois assim que saímos da Rua do Lavradio e andamos pouco mais de dois quarteirões, percebemos que o ambiente mudou completamente.

Aqui foi a primeira vez que sentimos que talvez fosse melhor voltar atrás e apanhar um táxi, pois todo o ambiente urbano à nossa volta era relativamente hostil e pouco propício ao passeio com compras da feira na mão e mochila às costas. Não se passou nada de mais, foi apenas um sentimento de insegurança que nos assaltou unanimemente e que nos fez tomar a opção de ar a volta programada, mas em vez de ser a pé, ser de táxi.

Foi assim entaõ que fomos até ao lindíssimo Teatro Municipal do Rio de Janeiro (o mais antigo teatro carioca), passámos em frente do Real Gabinete Português de Leitura (frustrantemente fechado, pelo que não o pudemos visitar por dentro) e demos a volta à imponente Igreja da Nossa Senhora da Candelária.

Foi em frente a esta igreja que o simpático taxista nos deixou e que voltámos a ficar a pé (já em zona segura, conforme nos disse o nosso atencioso taxista).


O CCBB DO RIO E O SEU TESTEMUNHO HISTÓRICO

Mesmo em frente à Igreja da Nossa Senhora da Candelária, está o imponente Centro Cultural do Banco do Brasil, e foi exactamente aqui que fomos.

Infelizmente todas as exposições temporárias estavam fechadas, mas mesmo assim era possível visitar as exposições permanentes do centro. Tendo sido a primeira sede deste mítico branco, o edifício em si é uma autêntica jóia de arquitectura do início do século XX. Imponente, institucional e impressionante são os três adjectivos que melhor assentam a esta obra de arquitectura.

Mas o mais curioso e interessante é a exposição sobre o valor e o dinheiro, bem como uma exposição sobre os objectos antigos e as salas originais que fazem parte da história deste mítico banco brasileiro.

Com a visita a estas exposições permanentes ficamos a perceber a história do dinheiro e como este assumiu o valor. Começando pelas trocas de bens até aos mais modernos cartões de crédito, a viagem é feita de uma forma muito didáctica e verdadeiramente educativa.

Mas foi nas salas dedicadas à história do banco que ficámos absolutamente maravilhados. Com uma simplicidade incrível a exposição leva-nos por uma sequência de apenas sete salas que nos explicam desde as origens do banco, como banco emissor por ordens de D. João VI (Rei de Portugal) até à actualidade. Mas se a mensagem é muito eficiente, é nos objectos expostos que está o interesse: desde uma pintura da partida do Rei de Portugal de Lisboa, a retratos da família real no Brasil, à reprodução em tamanho real de uma secretária do director da agência do Rio de Janeiro do princípio do século XX, passando pela visita aos gabinetes e salas da administração dos idos anos 1940s, tudo está espectacularmente bem explicado e exemplarmente bem exposto!



O MUSEU DO AMANHÃ

Mas depois de uma viagem ao passado (e depois de uma percurso a pé pela rua do Rio Branco "para não ter problemas", conforme nos recomendaram as simpáticas funcionárias do CCBB) chegamos a um dos edifícios mais futuristas desta cidade: o Museu do Amanhã.

Desenhado pelo arquitecto Santiago Calatrava, este edifício situa-se em plena orla marítima do Centro e tornou-se um dos símbolos da intervenção Olímpica no Rio de Janeiro. Como não seria de esperar o próprio edifício é verdadeiramente espantoso e belo, não só pela sua forma, como também pelo diálogo que esta estabelece com todo este espectacular entorno natural. No entanto foi no seu interior que tivemos a maior surpresa.

Com duas exposições bem esclarecidas, incrivelmente bem feitas, belas e didácticas, ficámos rendidos à mensagem ecológica e sustentável deste museu.

A exposição principal é toda ela composta por espectaculares instalações multimédia interactivas que reflectem sobre as origens do planeta, a natureza, o papel do homem e a natureza humana, as ameaças que estamos a infligir ao planeta e deixa em todos os visitantes a interrogação de qual o amanhã queremos construir. É uma mensagem fortíssima, dada de forma inteligente, positiva, mas muito consciente e verdadeira, não dramatizando, mas não escamoteando as ameaças, explicando o que cada um pode e deve fazer ... e quiser, mas explicando de forma simples, mas incrivelmente didáctica, as consequências dos actos de cada um.

A segunda exposição é sobre a alimentação, o que é, o seu passado, o seu presente e o seu impressionante futuro. Mais uma vez é uma exposição de alerta, eficiente, que recorre aos multimédia verdadeiramente interactivos e espectaculares, para deixar uma ideia positiva e poderosa na cabeça do visitante, fomentando assim a construção de um melhor amanhã local e global.

Ficámos absolutamente rendidos a este Museu do Amanhã e foi um encerrar do dia absolutamente perfeito!

Mas se o dia estava encerrado em grande, a noite de hoje tinha um programa muito completo e por isso voltámos ao hotel, descansámos um pouco, preparámos as malas para a viagem final de amanhã e arranjámo-nos para o que se seguia.





O JANTAR APRAZÍVEL

Tínhamos mesa marcada às 21.30h e foi com apenas 3 minutos de antecipação que chegámos ao nosso restaurante de hoje à noite: o espectacular Território Aprazível.

Este restaurante é um exuberante jardim tropical organizado em socalcos na íngreme encosta do Morro de Santa Tereza, que vai tendo salas e terraços cuja decoração, arquitectura de madeira e vista são absolutamente de cortar a respiração.

O ambiente deste restaurante é absolutamente de cortar a respiração, mas é a comida servida que é absolutamente divina. Desde as entradas (a qual destacamos o guacamole de Açaí) até aos pratos principais (como a maravilhosa galinhada carioca) e acabando com as sobremesas (é obrigatório provar o cheesecake de queijo coalhado com goiabada), tudo é absolutamente sublime, servido por um staff simpático, irrepreensível e muito atencioso!

Mas se a noite estava perfeita, ela continuou ainda mais especial!


O BAILE DE FUNK NO MUSIC HALL

Depois do nosso jantar perfeito com o Rio de Janeiro aos pés, e sabores absolutamente perfeitos, atravessámos a cidade (demorou cerca de 45 minutos de táxi, por isso foi mesmo um grande percurso) e fomos até ao gigantesco e muito popular Music Hall.

Esta sala de espectáculos é a maior sala de espectáculos da América Latina, e está especializada num dos mais populares fenómenos musicais do momento no Brasil: o Funk.

Assim, depois de andarmos de fila em fila para conseguirmos comprar as nossas entradas, e de simpaticamente o staff de segurança do recinto nos ter retirado das imensas filas exteriores e nos ter dado acesso à pequena e rápida fila já no interior da zona restrita, chegamos àquilo que é talvez a maior discoteca que alguma vez vimos.

Com uma banda em palco e um grupo de 6 cantores sertanejos, a música animava a multidão que já estava no local sem parar. Muitos sabiam as músicas, os ecrãs de leds, os bailarinos e a banda excepcional, que nunca parou de tocar, pegado as músicas umas com as outras, fizeram o resto do trabalho de contagiar tudo e todos. Ninguém estava parado, mas todos estavam à espera do que se seguiu. Eram perto das duas da manhã, o palco apagou-se todo, as luzes da discoteca também, a banda parou e saiu de palco e a multidão entrou em histeria: Dj Dippou's entrou em palco e rebentou com a escala de loucura instalada.

Todos pularam, cantaram, dançaram, rebolaram e divertiram-se loucamente com os ritmos electrizantes e contagiantes de Funk que saíam do potente e impressionante palco. Mas se todos estavam neste ritmo, nós também, pois não resistimos a este baile de Funk chique, que nos fez perceber o poderoso e fortíssimo movimento Funk do Rio de Janeiro. É um mundo com uma estética poderosa, que arrisca, e combina o alternativo dos inícios do movimento Rap americano, com o calor, ritmo e sensualidade da cultura musical brasileira.

Foi com este gigantesco Baile de Funk que terminámos este dia, e regressámos ao nosso Hostel uma última vez, antes de chegarmos ao dia final da nossa viagem por estes Trilhos de Vera Cruz, tão surpreendentes quanto contrastantes.

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