BERLIN KREATIVE | DESIGN SOCIAL


A mais underground das cidades europeias esconde um segredo. Apesar da aparência descentrada e dos estilos irreverentes que a compõe, é uma das cidades mais ecológicas do mundo e com uma maior consciência social.

Hoje o ...And This Is Reality explora uma das tendências actuais mais marcantes e que esperamos que venha para ficar: o design com objectivo social.


Ilha de Elise: um projecto de design social em Berlim

As crianças do departamento de psiquiatria infantil e juvenil do Hospital Evangelisches Krankenhaus Konigin Elisabeth (KEH), em Berlim, nunca mais estarão sozinhas. Para além dos médicos, enfermeiros e dos outros meninos, os pequenos pacientes são, desde Outubro, acolhidos pela Princesa Elise.


Ela é a protagonista da história que é contada às crianças e adolescentes quando chegam à institução: quando era nova, a princesa Elise inventou uma ilha só dela, com areias douradas, palmeiras, rochas a beijar as ondas e abrigos onde se podia recolher sempre que lhe apetecia. Aqui estaria sempre a salvo. Agora que é avó, Elise sentiu que já não precisava de viver na Ilha, e decidiu partilhá-la com os jovens pacientes do Hospital.

A lenda foi criada e transposta do imaginário para a realidade pela agência criativa alemã :: dan pearlman, que trabalhou em estreita cooperação com os psiquiatras do KEH ao longo de dez meses. O projecto da Ilha de Elise tem como base uma terapia holística, onde o design tem um papel central, o que representa uma abordagem totalmente nova à psiquiatria infantil e juvenil.


Cada sala foi pensada ao nível da forma, cor, materiais, luz e ar, com o objectivo de promover uma atmosfera positiva, de segurança e cooperação, tirando partido do poder da imaginação das crianças e adolescentes para a sua cura. O desafio é equilibrar as obrigações terapêuticas dos profissionais com as necessidades emocionais das crianças.

E a resposta tem sido positiva. Segundo os psiquiatras do KEH, os jovens estão relativamente calmos e o seu nível de agressividade diminuiu. “Os objectivos iniciais e os resultados que observamos agora encaixam perfeitamente”, assegura Diana Kaufmann, chefe do departamento de comunicação da :: dan pearlman.


É a primeira vez que a agência, especializada em brand management, se envolve num projecto de âmbito social. Reunindo um conjunto de designers, arquitectos e especialistas em comunicação e estratégia, a empresa está direccionada para o desenvolvimento de marcas. Desta vez, utilizou a sua experiência para fazer o KEH “brilhar, com os valores e o comportamento de uma marca”.

A :: dan pearlman constatou, desde o princípio, que esta perspectiva sobre o design pode adequar-se a outros cenários em que o ambiente influencie a cura e o desenvolvimento dos envolvidos, como, por exemplo, em jardins de infância ou instituições sociais. “As empresas deviam empenhar-se na sua responsabilidade social”, afirma Diana Kaufmann, “o design não se deve focar no parecer bem, mas em fazer bem”.



Quando a Ilha de Elise saltou do papel para a planta do departamento de psiquiatria infantil e juvenil do KEH, foi dividida em três unidades: o Sandburg (castelo de areia), para os mais pequenos, a Palmenhutte (cabana de palmeira), para os pré-adolescentes e o Klipper (um barco à beira-mar), para os adolescentes.

Os pacientes entre os três e os seis anos que são acolhidas na Sandburg passam a ser “as crianças que moram nas dunas”. Kallee, o caranguejo, é a mascote desta área onde o azul, o beije e o cor-de-laranja dominam. Também aqui, os espaços foram desenhados de forma a permitir que as crianças possam observar o que as rodeia sem se envolverem, como o caranguejo.


As crianças entre os sete e os treze anos estão na zona verde, a Palmenhutte. Aqui pertencem ao grupo de Coco, o papagaio. Pelo que simboliza, este influencia os jovens a arriscarem, a valorizarem as suas capacidades e a alcançarem novas alturas.

Os mais velhos, entre os treze e os dezoito anos têm o Klipper reservado. Aqui a personagem mascote é Rocko, o cão. Esta é a figura que representa a busca pela independência e pela individualidade. Os jovens são apelidados de rocke-fellows, os amigos que moram nas rochas.


Este projecto teve na sua génese a utilização de símbolos, cores e ambientes assentes nos conhecimentos médicos e nas habilidades de arquitectos e designers para lhes dar forma. A influência das cores na alteração de estados de espírito já é conhecida. A sua utilização num espaço hospitalar tem uma infinidade de benefícios: promove o sentido de orientação, motiva, no caso do verde, ajuda a curar, como o laranja, ou reduz os níveis de stress, no caso do azul.

A Ilha de Elise é um projecto muito importante para a :: dan pearlman e para o KEH, especialmente por envolver crianças com problemas que são crescentes na nossa sociedade. Estudos estatísticos indicam um aumento do nível de comportamentos suicidas, ansiedade, problemas alimentares e distúrbios psicológicos resultantes de abuso ou negligência em crianças cada vez mais jovens. “O design de um ambiente terapêutico moderno, ‘pacient friendly’, é a prioridade do nosso conceito”, afirma o director do KEH, Rainer North, “esperamos que um projecto referência tenha sido criado”.

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